quarta-feira, 25 de julho de 2012

O uso da força é remédio. Mas a cura está na educação.

Na notícia do Jornal Nacional sobre a escalada nos índices de violência, o governador afirma que:

Onda de violência preocupa o governo de São Paulo 
“Não tenho a menor dúvida de que os indicadores vão cair. Tem que perseverar esse trabalho. Nós vamos investir fortemente no policiamento, treinamento, tecnologia, eficiência policial e vai passar”, diz o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Porém sabemos que por mais que a força seja imposta pela entidades de segurança, a justiça ainda é muito lenta para atender a demanda que a ela é gerada. Isto pode ser notado nesta outra notícia do Jornal Nacional, onde é mostrado que a lei apresenta o comportamento de "dois pesos / duas medidas". Além disso, percebe-se um dado importante sobre o perfil do meio milhão de pessoas que estão presas:
Diferentes interpretações de leis atrasam julgamentos no Brasil 
"E se a lei não é igual pra todos, quem, então, vai pra cadeia? O Brasil tem hoje meio milhão de pessoas presa. A maioria é homem, tem menos de 35 anos e não completou o ensino fundamental. Quase metade está na cadeia por crimes contra o patrimônio, como furto e roubo. Só um em cada dez detentos está preso por crimes contra a pessoa: assassinato, sequestro e cárcere privado."
Muito bem... Menos de 35 anos e não completou o ensino fundamental! Neste momento, é importante remeter-se a uma excelente matéria publicada na revista Veja (2005 - Ed. 1892) que comparava o Brasil e a Coréia do Sul. Nesta matéria foi citado que:
"A Coréia do Sul e o Brasil já foram países bastante parecidos. Em 1960, eram típicas nações do mundo subdesenvolvido, atoladas em índices socioeconômicos calamitosos e com taxas de analfabetismo que beiravam os 35%."

Logo em seguida faz-se menção a situação atual dos dois países:
"Hoje, passados quarenta anos, um abismo separa as duas nações. A Coréia exibe uma economia fervilhante, capaz de triplicar de tamanho a cada década. Sua renda per capita cresceu dezenove vezes desde os anos 60, e a sociedade atingiu um patamar de bem-estar invejável. Os coreanos praticamente erradicaram o analfabetismo e colocaram 82% dos jovens na universidade. Já o Brasil mantém 13% de sua população na escuridão do analfabetismo e tem apenas 18% dos estudantes na faculdade. Sua renda per capita é hoje menos da metade da coreana. Em suma, o Brasil ficou para trás e a Coréia largou em disparada. Por que isso aconteceu? Porque a Coréia apostou no investimento ininterrupto e maciço na educação – e nós não."

Nenhuma dúvida que este investimento valeu e continua velando a pena para a a Coréia do Sul. Na imagem abaixo ilustra-se "o fenômeno coreano":



Porém, podemos concluir que o uso da força através das entidades de segurança é um remédio temporário para a resolução dos crescentes índices de violência. Supondo que o governo seja capaz de prover contigente policial para garantir a segurança, sabemos que isto não se sustenta. No primeiro momento que isto for interrompido os índices voltam novamente para o modo de escalada.

A única maneira de garantir a segurança é através do investimento sério na educação. Isto sim é sustentável! Porém o tempo de resposta desta ação é elevado e só trará resultados para as próximas gerações. Cabe a nós cobrar dos nossos governantes a execução deste grande projeto.


Ainda referenciando a reportagem da revista Veja. Fica aqui as 7 lições da Coréia para o Brasil:


7 lições da Coréia para o Brasil 
O que o país pode aprender como bem-sucedido modelo de educação implantado na Coréia do Sul

Monica Weinberg, da Coréia do Sul

1. Concentrar os recursos públicos no ensino fundamental – e não na universidade – enquanto a qualidade nesse nível for sofrível
2. Premiar os melhores alunos com bolsas e aulas extras para que desenvolvam seu talento
3. Racionalizar os recursos para dar melhores salários aos professores
4. Investir em pólos universitários voltados para a área tecnológica
5. Atrair o dinheiro das empresas para a universidade, produzindo pesquisa afinada com as demandas do mercado
6. Estudar mais. Os brasileiros dedicam cinco horas por dia aos estudos, menos da metade do tempo dos coreanos
7. Incentivar os pais a se tornarem assíduos participantes nos estudos dos filhos



3 comentários:

Paulo Crestani disse...

Excelente texto, muito bem construído e evidenciado.

Entretanto, uma coisa me intriga sobre este tema. Não é de hoje que ele é discutido no Brasil e de tanto ser discutido, já faz bastante tempo que soluções baseadas no investimento em educação é consenso tanto entre intelectuais, quanto na própria população. O fato de ser tema recorrente em campanhas eleitorais demonstra claramente sua aceitação perante a população.

Mas por outro lado, apesar de há tempos todos aparentemente concordarem com o caminho do desenvolvimento baseado na educação, e aí não me atenho apenas ao cenário da segurança, pois a educação é um gatilho que dispara outros benefícios, como crescimento econômico, aumento de renda, etc. há tempos ainda estamos por começar a caminhar.

Por que será que esse fenômeno ocorre? Está aí um texto que não me lembro de ter lido. Por que os brasileiros, mesmo conhecendo o caminho se recusam a segui-lo? Uns diriam que é falta de vontade política, mas seria apenas isso? Não seria também falta de vontade da sociedade que poderia exercer pressão sobre a classe política?

Não conheço respostas claras pra esse fenômeno, mas me parece que entendê-lo adequadamente é vital para iniciarmos a caminhada, mesmo que tenhamos que tomar um caminho diferente do que inicialmente imaginamos.

Danilo Rosetto Muñoz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Danilo Rosetto Muñoz disse...

Muito obrigado pelo comentário!

Acredito que a razão deste problema é bem complexa porque lida com as pessoas dos mais variados tipos que estão na sociedade (assistindo e as vezes intervindo), no governo (dirigindo) e na infância (aprendendo).

Na minha opinião, existem duas formas disso mudar:
* Ao longo de muito tempo, com a evolução gradativa das pessoas
* Algum evento de grande impacto na sociedade